Fragmentos e constelações
- robertojunquilho
- 28 de nov.
- 2 min de leitura
Kleber Frizzera

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Alberto Caieiro
O território da metrópole tornou-se um conjunto de paisagens e recortes híbridos, um puzzle expandido, complexo e dinâmico, um quebra cabeças de difícil resolução, impossível de ser refeito e conter uma utopia venturosa.
Quando me movimento em seus lugares e eventos fugazes, imerso em uma multidão de pessoas e múltiplos estímulos, mergulhado em fragmentos de experiências, afetos e sonhos desfeitos, busco reconhecer um sentido, decifrar os seus efeitos e mistérios, que configurem um mundo comum, de beleza e igualdade.
Estes fragmentos são pequenos pontos, estrelas que brilham dispersos, identidades e sujeitos que, pirilampos, anunciam suas dores, mas também prazeres, sofrimentos e amores, aguardam retornos às suas solidões.
Como um céu estrelado, estes lampejos urbanos, conectados por linhas fantasmas formam constelações, a serem nominadas, em paralaxe, de histórias ou signos particulares, disputando ordenamentos em articulações provisórias a olhares diversos.
Estes mapas, em continua reconfiguração, sugerem deslocamentos imprevistos, improvisam encontros eventuais, alternam destinos, , caleidoscópio de distorcidas figuras e saberes, únicos a cada instante, alternam limitações e desejos.
Mas onde o meio e o caminho diante de suas intricadas métricas, figuradas proporções e memórias comuns?
Cabe pensar tragicamente.
Aquecimento global, mudanças climáticas, genocídios e guerras, práticas de preconceitos, segregações e violências, expansão dos novos fascismos e desigualdades sociais, os recentes riscos da Inteligência Artificial- IA-, são sintomas dos momentos frágeis, o planeta e a humanidade atravessam desafios e tempos difíceis.
De um lado, os mais otimistas, crendo no progresso incessante e nas novas tecnologias, estimam que a humanidade em suas formas transumanas, cyborgs, será capaz, de superar estes riscos extremos e transformada, anunciar um tempo de felicidade, gozos e prazeres, de erguer e viver no prometido jardim das delícias.
Para estes, a inteligência artificial, ao ampliar a capacidade criativa e inovadora dos sujeitos, indivíduos livres, provera’ as condições de ocupar a Lua, onde se instalarão os felizardos, que terão um longa ou ilimitada expansão de suas vidas.
Aos céticos, as alterações dos sistemas de produção e consumo, de uma forma sustentável e socialmente distributiva, limitados os gastos e controladas as destruições ambientais, reduzira’, adiar ou impedira’ as mudanças climáticas, seus impactos e alterações ambientais, impondo leis e controles rigorosos aos modos de exploração do capitalismo global.
Os que acreditam que já ultrapassamos o ponto de retorno, só cabe, quando a casa está em chamas, “e o presente logo se torna o tempo que resta”, acompanhar a máxima estoica- sem esperança e sem medo-, como humanos e animais, indefesos e incapazes espectadores dos fins dos tempos terrestres.
Alongar o presente, fazer o tempo tão lento quando for possível, é uma outra tentativa, que se conflita com uma aceleração que caminha ao lado da inovação, em ciclos de consumo cada vez mais curtos, em uma urgência, da valorização do instantâneo e da simultaneidade.
No horizonte da tirana da urgência, do esgotamento dos bens naturais, escreve Francois Hartog, surge uma catástrofe anunciada, e sem futuro, tudo se torna acontecimento, eventos que se esgotam e se desfazem a cada instante, onde cada minuto conta, e “no tempo estreitado, contraído pela urgência, a decisão e o gesto a ser feito pode chegar tarde demais".






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