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Helaine com H de Humanidade

  • Foto do escritor: Marcelo Martins
    Marcelo Martins
  • 16 de dez.
  • 2 min de leitura

Marcelo Martins


Há nomes que já nascem com destino. Helaine, com H, como ela faz questão de lembrar, carrega esse sopro manso e firme de quem nunca passou pela vida de forma distraída e nem a passeio. Sempre foi dessas pessoas que caminham olhando adiante, mas com os pés bem fincados no chão donde vieram de raízes ancestrais e suburbanas.

Filha da classe média, aprendeu cedo que sonho não se herda: constrói-se. E ela construiu muitos. Primeiro, com o corpo em movimento, ainda menina, quando a ginástica e o balé olímpico a levaram a representar o Espírito Santo em competições nacionais.

Já era uma estrela, dessas que brilham sob aplauso, mas guardava no peito uma curiosidade maior, mais alta, mais distante no Firmamento.

Se o palco terrestre a aplaudia, o céu a chamava.

Foi assim que Helaine se fez astrônoma, no Observatório Nacional, mirando constelações, perguntando ao universo o que poucos ousam perguntar. Saiu de lá mestra, mas não satisfeita. Porque há quem encontre sentido nos astros e há quem descubra que o verdadeiro cosmos está nas pessoas, aqui na Terra.

Foi na sala de aula do Ifes, em Vitória, que Helaine ao retornar montada na sua motocicleta se reconheceu inteira. Mulher, professora, mestra, mãe.

Ensinando homens e mulheres da periferia, trabalhadores urbanos, no programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Ifes mostrou que ciência não é privilégio, é direito. Que internet não é distração, é também ferramenta de trabalho. Que o saber liberta quando é compartilhado com paciência e compromisso ético.

Mas Helaine, com H, é teimosa, no melhor sentido da letra e da palavra escrita. Daquelas que não se acomodam no que já sabe.

Criada na escola de Paulo Freire, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, entre outros pensadores, Helaine entendeu que aprender é um gesto permanente de humildade. E agora, com mais de 60 anos, quando muitos pensam em desacelerar, ter uma aposentadoria, ela acelera o coração e a mente.

A danada foi aprovada hoje no doutorado em Educação em Ciências e Tecnologias. Em universidade pública. Em casa. No Ifes, sob orientação da mestra Graça Lobino, uma referência educacional em todos os sentidos.

É um sonho de vida inteira que não chega como ponto final, mas como vírgula. Porque Helaine não acumula títulos. Ela os transforma em pontes. O conhecimento que conquista não fica só nela, escorre para os alunos, para a comunidade, para quem a conhece de perto.

Sua trajetória ensina sem discurso mostrando que nunca é tarde, que a ética sustenta o saber como alimento diário, que educação é ato de coragem e afeto. Helaine é dessas estrelas raras que não brilham sozinhas. Como os faróis, ela ilumina caminhos.

Que venha o doutorado, futura doutora Helaine. Que chegue mais perguntas, mais descobertas, mais partilhas.

Porque enquanto houver bambu, tem flecha, e alguém disposto a aprender e ensinar como Helaine, com H de humanidade, o futuro ainda tem esperança.

Como diz o octogenário poeta baiano, compositor e imortal da Casa de Machado de Assis, Gilberto Gil, Helaine “anda com fé, pois a fé não costuma faiar...”

Estou muito feliz e orgulhoso por mais essa sua conquista, minha querida de sempre!


Marcelo Martins é jornalista e cronista

 
 
 

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