Lista de pretendentes ao senado só cresce, em cenário embolado
- robertojunquilho
- 27 de nov.
- 5 min de leitura
Aída Bueno (E.) -
Sabe aquela brincadeira onde seis pessoas ficam rodando em volta de cinco cadeiras e, a comando, todas tentam sentar? Alguém vai ficar de fora, correto? Na disputa pelo Senado nas eleições de 2026, no Espírito Santo, o cenário é bem mais complicado do que isso. São apenas duas cadeiras e a relação de pretendentes já beira 15 políticos. As vagas serão abertas com o final dos mandatos dos senadores Fabiano Contarato (PT), conduzido com eficiência, e Marcos do Val (Podemos), marcado por fatos bizarros e tragicômicos. Ambos candidatos à reeleição.

Nesta quinta-feira (27), o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) participa em Brasília da posse do deputado federal Aécio Neves na presidência do partido. Exatos oito anos depois de Aécio deixar o cargo acusado de corrupção. LP quer sacramentar seu nome como pré-candidato. Portanto, não se espante se surgir convite para uma roda de samba com feijoada lançando a candidatura dele ao Senado.
O número de políticos – experientes ou novatos – que já manifestaram interesse em disputar uma dessas cadeiras é explicado pelo cientista político Darlan Campos: “Isso é algo relativamente comum nesse momento da disputa (a pré-campanha), onde os atores políticos buscam se movimentar. Isso permite que fiquem em evidência, deem entrevistas. Faz parte querer somente ter visibilidade”.

“Uma data importante é 4 de abril, porque a legislação brasileira exige que se você está em um cargo e deseja pleitear outro, precisa se desincomtabilizar seis meses antes. Então, no final de março, início de abril, nós vamos ter um cenário muito claro de possíveis candidatos ao Senado. São atores políticos que precisam desincomtabilizar para vir candidatos”, lembra Darlan (foto).
Até lá, o eleitor capixaba vai conviver com apostas, especulações e até com a mão do destino. Caso do deputado federal bolsonarista Evair de Melo (PP), por exemplo. Ignorando que a Federação União Progressista pode dar prioridade ao deputado federal Da Vitória (PP), Evair jura que o convite para que fosse candidato ao Senado foi feito pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em pessoa. Até marcou data pra visitar seu ídolo na residência-prisão onde ele vivia, mas, o STF mandou prender Jair em uma cela da Polícia Federal.
Evair, então, passou a dizer por aí que as tendências da direita deveriam se unir, algo que possivelmente não passa pela cabeça do senador Magno Malta (PL), que tenta a todo custo emplacar a candidatura de sua filha, Maguinha Malta (PL). Maguinha, para quem não sabe, é uma ilustre desconhecida. Não se tem notícia de que tenha ocupado qualquer cargo na vida pública, sequer de líder comunitária num bairro pequenininho ou de síndica.
O balaio de gatos só enche. O prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), vem trabalhando duro para tentar cacifar seu nome na disputa. Aliado do governador Renato Casagrande (PSB), que nos últimos anos abriu seu pacote de bondades para beneficiar Euclério, o prefeito pode esbarrar justamente numa possível candidatura do próprio governador. Nada ainda foi decidido, nada pode ser descartado.
Até o ex-governador Paulo Hartung (PSD), que há tempos se considerava felicíssimo só em faturar alto participando de conselhos aqui e ali, vem colocando o nariz, cabeça, braços, tronco e pernas de fora. De repente, resolveu aparecer mais nas redes sociais e na imprensa, dando palpites sobre tudo e todos. Dizem que está de olho no Senado. Hartung é exemplo clássico do “ame ou odeie”, não sobra muito espaço para meio-termo. Mas, apesar de distante da disputa eleitoral há um tempinho, ainda mantém um certo capital político.
Ícone feminina da velha guarda, também a ex-senadora Rose de Freitas (MDB) já colocou seu nome à disposição do partido. Rose disputou em 2022 e perdeu para Magno Malta. Entretanto, assim como Hartung tem lá seu capital político.
O ex-deputado federal Carlos Manato (PL), sozinho, pode ser descrito como um micro balaio de gatos. Há muito diz que quer uma das vagas ao Senado e ameaçou deixar o PL, comandado no Espírito Santo por Magno Malta, porque o senador colocou o nome da filha na disputa. Então Manato fez acenos de que ele e a mulher, a ex-deputada federal Soraya Manato, iriam de mala e cuia para o Republicanos. Dizem que o sonho do deputado é reconduzir a mulher à Câmara Federal. Até o fechamento desta matéria, entretanto, o casal nem saiu do PL, tampouco fechou de vez com o Republicanos.
Talvez o grande problema de Manato (além de Magno Malta), seja os arranjos que o governador Renato Casagrande (PSB) vem fazendo tentando emplacar Ricardo Ferraço (MDB) como seu sucessor. O Partido Socialista Brasileiro deixou o pudor de lado no Espírito Santo e tem feito acordos com quem aceitar: esquerda, centro esquerda, centro, direita, centro direita, extrema direita… Dá medo! Manato é inimigo declarado do governador, logo, vai ser difícil encontrar um partido para chamar de seu.
O senador Marcos do Val (Podemos) é o que chamamos de caso à parte. Passou o mandato fazendo… Bem, ficou no Senado. Investigado por suposta intimidação de policiais federais que apuravam a trama golpista contra o Brasil, foi proibido pelo STF de usar redes sociais e de sair do país. Não cumpriu, ganhou tornozeleira eletrônica e só se livrou do artefato quando prometeu tirar licença do cargo. Retornou da licença, vestiu o colete da Shopee da Swat e tenta ressuscitar o “PRO-SEG”, seu programa de segurança pública que nunca saiu do papel.
A pré-disputa por uma cadeira no Senado conta ainda com nomes menos prováveis: os deputados estaduais Sérgio Meneguelli (PSD) e Wellington Callegari (DC), além do vereador de Vitória Leonardo Monjardim (Novo). Amanhã de manhã, a lista de quem colocou seu nome na lista só para ter visibilidade já pode ter aumentado.
Enquanto isso, o senador Fabiano Contarato (PT) segue a todo vapor mostrando ao eleitor nas redes sociais qual é o seu perfil, o que já fez na casa, o que ainda pretende fazer. Conquistou a presidência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado, onde vem aumentando sua visibilidade. Além disso, trabalha na formatação de uma legislação robusta para bicicletas elétricas e autopropelidos. É a preocupação do momento, mas, resta saber se vai conseguir convencer o eleitor capixaba. Oremos.
Última hora
Para Darlan, o eleitor brasileiro costuma se preocupar mais com a escolha dos demais cargos em uma eleição geral, deixando para última hora sua decisão sobre em quem vai votar para o Senado. Um equívoco, na opinião do consultor em marketing político Darlan Campos, que alerta: é a mais importante casa do sistema bicameral brasileiro, logo, deveria ser uma escolha muito bem pensada.
“A gente vê muitos ex-governadores, ex-ministros, políticos com uma trajetória mais longa ocupando mandatos. Essa tem sido a tradição do Senado”, diz ele. É onde importantes questões externas são analisadas, como a indicação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), alerta.
Essa importância fica evidente ao se analisar o próprio sistema eleitoral, onde os mandatos na Câmara duram quatro anos, tempo que dobra com relação ao Senado, ressalta: “O Senado tem um tempo maior, de oito anos, não fica à mercê do calor do momento do eleitorado”. E lamenta que, apesar desse importante papel, o eleitor debate mais, analisa mais, outras candidaturas, principalmente para a Câmara. E, geralmente escolhe melhor um voto para o Senado. O outro é decidido sem muito cuidado.
Foi exatamente isso que se viu nas eleições de 2018 em terras capixabas, por exemplo. Bastaram dois, três anos, para que os “arrependidos” começassem a reclamar nas ruas e redes sociais sobre o comportamento de um de seus escolhidos. Os argumentos? Dizem que só votaram num candidato porque não gostavam dos demais; ou que acharam que o candidato era “legal”; ou ainda o clássico “escolhi o menos pior”. Todas essas opções, para Darlan Campos, são inadequadas.
“O que a gente sugere ao eleitor é que busque conhecer a visão de mundo do candidato, sua história de lutas, as coisas em que ele acredita, o que ele defende. O eleitor tem deixado a disputa pro Senado como a última escolha de voto que ele faz. Minha recomendação é que ele analise com antecedência”, aconselha, repetindo que o eleitor costuma fazer isso com as demais candidaturas, não com o Senado.






Comentários