IA, Eleições e o teste da democracia em 2026
- robertojunquilho
- há 2 dias
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Marcelo Martins
Na última reunião ministerial do ano, o presidente Lula manifestou o desejo de estar onipresente em vários espaços públicos do país, simultaneamente, levando sua mensagem de campanha.
Teve a ideia, segundo ele próprio, quando viu um holograma da figura do empresário e apresentador televisivo, Silvio Santos, morto em agosto de 2024, falando de “viva voz” durante a solenidade de lançamento do novo canal do grupo SS, o SBT News.
Por entre promessas de inovação e riscos inéditos, a Inteligência Artificial entra no centro do debate eleitoral brasileiro.
A IA deixou de ser tema futurista para se tornar infraestrutura do cotidiano e, inevitavelmente, da política. Às vésperas das eleições de 2026, o Brasil se depara com uma questão decisiva: como preservar a integridade do processo eleitoral num ambiente em que vídeos hiper-realistas, vozes sintéticas e campanhas automatizadas podem confundir, manipular e escalar desinformação, fake news, em velocidade industrial?
O debate não é abstrato. Já em 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lidou com disparos em massa, redes coordenadas e conteúdos enganosos. A diferença agora é qualitativa: a IA generativa permite criar deepfakes convincentes, avatares que “falam” como candidatos reais e estratégias de microssegmentação capazes de adaptar mensagens para públicos específicos, em tempo real. O risco não é apenas mentir, mas ornar a mentira indistinguível da verdade.
Uma pergunta que busca resposta é se o TSE está ou não preparado para os novos tempos midiáticos de campanhas eleitorais.
O TSE avançou. Após 2022, consolidou parcerias com plataformas digitais, reforçou núcleos de enfrentamento à desinformação e atualizou resoluções para responsabilizar campanhas por conteúdos fraudulentos, inclusive os produzidos com IA. A Justiça Eleitoral também passou a exigir maior transparência sobre impulsionamento em redes sociais diversas e a agir com mais rapidez para retirar conteúdos comprovadamente falsos.
Ainda assim, o desafio é assimétrico. A inovação tecnológica corre mais rápido que a regulação. Ferramentas de IA são baratas, acessíveis e globais, a fiscalização é nacional, sujeita ao devido processo legal. O TSE pode mitigar danos, mas dificilmente conseguirá prevenir todos. A eleição de 2026 será, nesse sentido, um teste de estresse institucional.
Três frentes concentram os maiores riscos de onde mora perigo:
_ Deepfakes políticos: vídeos e áudios falsos atribuídos a candidatos, capazes de provocar crises instantâneas antes que a checagem alcance o mesmo público.
- Automação persuasiva: bots com linguagem natural, simulando apoiadores “reais” e pressionando debates em redes e aplicativos de mensagem.
- Opacidade criativa: conteúdos gerados por IA sem rotulagem, dificultando ao eleitor saber se está diante de uma proposta humana ou de uma peça sintética.
Nesse contexto, declarações sobre o uso de tecnologias avançadas como a produção de avatares ou hologramas para ampliar a presença de candidatos em múltiplos eventos devem ser analisadas com precaução.
Tecnicamente, experiências imersivas e transmissões avançadas são possíveis, politicamente, elas levantam questões sobre igualdade de condições, ética, transparência e o limite entre comunicação legítima e simulação enganosa. Se e quando tais iniciativas ocorrerem, o crivo regulatório será necessidade prudencial.
Se a Justiça Eleitoral é a linha de frente institucional, o eleitor é a última barreira democrática. Identificar mau uso de IA passa por hábitos simples, mas decisivos, tais como: desconfiar do sensacionalismo de conteúdos que causam choque imediato são os mais propensos a manipulação. Verificar a fonte de perfis recém-criados, sem histórico ou com comportamento automatizado, merecem cautela. Usar a checagem de agências independentes e canais oficiais do TSE devem ser referência.
A IA não é, por si, inimiga da democracia. Pode ampliar acessibilidade, traduzir propostas, combater desinformação e aproximar candidatos de eleitores. O problema surge quando a tecnologia substitui o debate por simulação, a persuasão por engano, o falso espetáculo avesso à boa prática política.
Em 2026, o Brasil não escolherá apenas governantes (presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais). Testará se suas instituições, suas leis e sua sociedade civil conseguem domesticar uma tecnologia poderosa sem abrir mão da liberdade de expressão e sem permitir que a verdade se torne apenas mais um efeito especial de pura trapaça criminosa.






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